Comentário da Autora
O Fantoche nasceu em Fevereiro de 2020. Após um período complicado pela situação mundial atual, voltei a escrever. Comecei por algo curto e simples, sem muita profundidade. Algo ao qual poderia acrescentar parágrafos sem ter de pensar muito no Universo, se as personagens estavam bem delineadas ou não, se as regras do mundo eram respeitadas e quais eram. E foi assim que Sienna, uma mulher sem qualquer personalidade - o nosso fantoche, e o seu companheiro pouco usual, um gato de porcelana capaz de se tornar num ser vivo, foram criados.
O Fantoche nasceu em Fevereiro de 2020. Após um período complicado pela situação mundial atual, voltei a escrever. Comecei por algo curto e simples, sem muita profundidade. Algo ao qual poderia acrescentar parágrafos sem ter de pensar muito no Universo, se as personagens estavam bem delineadas ou não, se as regras do mundo eram respeitadas e quais eram. E foi assim que Sienna, uma mulher sem qualquer personalidade - o nosso fantoche, e o seu companheiro pouco usual, um gato de porcelana capaz de se tornar num ser vivo, foram criados.
Episódio 0 - O nascimento do Fantoche
Sienna levantou-se e olhou em volta. As paredes altas da cratera onde se encontrava erguiam-se imponentes. O cheiro a fogo e terra era forte e o brilho das chamas, que ao pouco de apagavam, parecia concentrar-se a seus pés na forma de um pequeno gato esbranquiçado. Sienna agarrou na pequena estatueta. Estava quente mas era suportável. Ao endireitar-se reparou nas outras duas figuras. Os três trocaram olhares, examinando-se uns aos outros. No lado esquerdo de Sienna, uma figura fantasmagórica semelhante a ela flutuava, levantando as cinzas do chão. No outro lado, uma figura masculina queimada, horrenda e corcunda tremia como se não tivesse forças suficientes para se manter em pé.
Sienna reconheceu-os. E eles a ela. Os três eram parte de todo um Ser que se tinha esticado demais e caído do seu majestoso altar divino. Sienna não tinha dúvidas. Eles estavam ali para terminar o que a queda tinha começado. Eles iam terminar de matar o mundo. As duas figuras acenaram com a cabeça, concordando com os seus pensamentos.
Aquele mundo tinha morrido, só não o sabia ainda.
Sienna levantou-se e olhou em volta. As paredes altas da cratera onde se encontrava erguiam-se imponentes. O cheiro a fogo e terra era forte e o brilho das chamas, que ao pouco de apagavam, parecia concentrar-se a seus pés na forma de um pequeno gato esbranquiçado. Sienna agarrou na pequena estatueta. Estava quente mas era suportável. Ao endireitar-se reparou nas outras duas figuras. Os três trocaram olhares, examinando-se uns aos outros. No lado esquerdo de Sienna, uma figura fantasmagórica semelhante a ela flutuava, levantando as cinzas do chão. No outro lado, uma figura masculina queimada, horrenda e corcunda tremia como se não tivesse forças suficientes para se manter em pé.
Sienna reconheceu-os. E eles a ela. Os três eram parte de todo um Ser que se tinha esticado demais e caído do seu majestoso altar divino. Sienna não tinha dúvidas. Eles estavam ali para terminar o que a queda tinha começado. Eles iam terminar de matar o mundo. As duas figuras acenaram com a cabeça, concordando com os seus pensamentos.
Aquele mundo tinha morrido, só não o sabia ainda.
Episódio 1 - O Fantoche e a Estátua de Porcelana
Sienna sempre foi uma pessoa calma, reservada. Quando falava, dizia coisas estranhas, sem sentido e, por vezes, assustadoras. Talvez por isso mesmo, quando se descobriu que Sienna tinha sido acusada de homicídio com arma de fogo, ninguém duvidou que fosse verdade.
Porém Sienna não assumia o crime. Também não o negava. Ficava ali, na sala de interrogatório, calma, silenciosa, impassível. Nem parecia sequer ouvir o que lhe diziam. Os olhos sempre abertos mal pestanejavam. Sempre com uma postura direita, impecável mesmo naquela cadeira desconfortável. O detetive batia na mesa de frustração, exigindo respostas da mulher. Mas Sienna continuava sem falar, sem reagir, sem pestanejar.
Esta dança estranha continuou durante meses até ao fim do julgamento. Culpada. Sienna foi enviada para a prisão sem se tentar defender. Cumpria sua pena tal como tinha vivido. Calma, reservada, silenciosa. Ninguém se metia com ela, os rumores cada vez mais disparatados e assustadores e Sienna não os negava.
Três anos depois, o verdadeiro homicida foi apanhado e Sienna foi libertada. Muitos vieram ter com ela, a maioria atrás de uma fatia da indemnização que tinha recebido. Muitos deles que a tinham acusado e insultado durante o julgamento e prisão. Mas Sienna não mudou. Continuou a mesma pessoa calma, reservada e impassível.
Quando finalmente a deixaram a sós na sua velha casa, a mulher não perdeu tempo e foi ao quintal traseiro. Do barracão, tirou uma pá velha e começou a cavar um buraco entre as raízes do enorme carvalho que os seus avós tinham ali plantado no dia que se casaram. Sienna cavou sem suar ou cansar. Por fim, encostou a pá ao tronco e ajoelhou-se ao lado do buraco. Uma caixa estava visível por baixo de uma fina camada de terra. A mulher puxou-a para fora e abriu-a. No interior, uma estátua de um gato de porcelana a dormir estava pousada no veludo negro que forrava o interior da caixa. Sienna encostou os lábios à cabeça da estátua e soprou. O gato moveu-se, inspirando fundo, e abriu os olhos, a porcelana transformando-se em pêlo branco.
«Demoraste muito tempo, fantoche. Divertiste-te com os humanos?»
Sienna pousou a mão no gato que se espreguiçava. Com o que pareceu uma gargalhada, o gato voltou a falar na sua cabeça:
«Aquele que não sonha, é cego para a verdade. Aquele que não dorme, cego fica para a realidade.»
O gato branco moldou-se à sua mão, mudando de forma. A pequena pistola de aspecto frágil estava de novo nas mãos da mulher. Agora estava completa. Sienna, o fantoche humano, e o seu gato de porcelana estavam de volta ao serviço.
Sienna sempre foi uma pessoa calma, reservada. Quando falava, dizia coisas estranhas, sem sentido e, por vezes, assustadoras. Talvez por isso mesmo, quando se descobriu que Sienna tinha sido acusada de homicídio com arma de fogo, ninguém duvidou que fosse verdade.
Porém Sienna não assumia o crime. Também não o negava. Ficava ali, na sala de interrogatório, calma, silenciosa, impassível. Nem parecia sequer ouvir o que lhe diziam. Os olhos sempre abertos mal pestanejavam. Sempre com uma postura direita, impecável mesmo naquela cadeira desconfortável. O detetive batia na mesa de frustração, exigindo respostas da mulher. Mas Sienna continuava sem falar, sem reagir, sem pestanejar.
Esta dança estranha continuou durante meses até ao fim do julgamento. Culpada. Sienna foi enviada para a prisão sem se tentar defender. Cumpria sua pena tal como tinha vivido. Calma, reservada, silenciosa. Ninguém se metia com ela, os rumores cada vez mais disparatados e assustadores e Sienna não os negava.
Três anos depois, o verdadeiro homicida foi apanhado e Sienna foi libertada. Muitos vieram ter com ela, a maioria atrás de uma fatia da indemnização que tinha recebido. Muitos deles que a tinham acusado e insultado durante o julgamento e prisão. Mas Sienna não mudou. Continuou a mesma pessoa calma, reservada e impassível.
Quando finalmente a deixaram a sós na sua velha casa, a mulher não perdeu tempo e foi ao quintal traseiro. Do barracão, tirou uma pá velha e começou a cavar um buraco entre as raízes do enorme carvalho que os seus avós tinham ali plantado no dia que se casaram. Sienna cavou sem suar ou cansar. Por fim, encostou a pá ao tronco e ajoelhou-se ao lado do buraco. Uma caixa estava visível por baixo de uma fina camada de terra. A mulher puxou-a para fora e abriu-a. No interior, uma estátua de um gato de porcelana a dormir estava pousada no veludo negro que forrava o interior da caixa. Sienna encostou os lábios à cabeça da estátua e soprou. O gato moveu-se, inspirando fundo, e abriu os olhos, a porcelana transformando-se em pêlo branco.
«Demoraste muito tempo, fantoche. Divertiste-te com os humanos?»
Sienna pousou a mão no gato que se espreguiçava. Com o que pareceu uma gargalhada, o gato voltou a falar na sua cabeça:
«Aquele que não sonha, é cego para a verdade. Aquele que não dorme, cego fica para a realidade.»
O gato branco moldou-se à sua mão, mudando de forma. A pequena pistola de aspecto frágil estava de novo nas mãos da mulher. Agora estava completa. Sienna, o fantoche humano, e o seu gato de porcelana estavam de volta ao serviço.
Episódio 2 - O Fantoche e a Sepultura
Sienna parou em frente à sepultura. A lápide estava negra após tantos anos de exposição aos elementos naquele canto distante do cemitério. Algumas filas atrás, mausoléus decorados e esquecidos assombravam a paisagem, cinzentos e feios, deformados pela chuva e pelo vento ao abandono.
A jaula de ferro ferrugento mantinha-se protetora da sepultura aos pés de Sienna. O gato branco espreguiçou-se nos seus braços, saltando para cima da grade.
«Estás à espera do quê? Que o sol nasça?»
Sienna agarrou a pá. As suas pesquisas diziam-lhe que poderia escavar em volta da jaula e até mesmo parti-la se quisesse. Contudo, também podia usar os métodos dos ladrões de corpos e cavar apenas no local da lápide, partir uma das pontas do caixão podre e puxar o que queria do interior.
Enquanto Sienna cavava, o gato branco observava as sombras rodopiantes nos cantos escuros do cemitério. E cantos escuros era o que não faltava, sendo a noite escura de uma lua nova. Quando Sienna terminou, deitou-se na terra e enfiou o braço pelo caixão. O seu rosto meteu-se calmo e sem uma gota de suor enquanto vasculhava os restos mortais de quem quer que fosse que tivesse sido ali enterrado. De dentro, retirou um saco escuro que ameaçava desfazer-se a qualquer momento.
Sienna tapou rapidamente o buraco e endireitou a lápide. O processo foi repetido para mais duas sepulturas que os dois investigaram semanas antes. O dia estava quase a nascer quando Sienna e o gato de porcelana saíram do cemitério e regressaram a casa. Lá, Sienna despejou o conteúdo dos sacos no balcão da cozinha. Do interior caíram três pequenas estátuas de porcelana branca: um furão, um rato e uma coruja.
O gato branco pareceu rir-se. Agora teria companhia como ele e não apenas aquele fantoche aborrecido.
Sienna parou em frente à sepultura. A lápide estava negra após tantos anos de exposição aos elementos naquele canto distante do cemitério. Algumas filas atrás, mausoléus decorados e esquecidos assombravam a paisagem, cinzentos e feios, deformados pela chuva e pelo vento ao abandono.
A jaula de ferro ferrugento mantinha-se protetora da sepultura aos pés de Sienna. O gato branco espreguiçou-se nos seus braços, saltando para cima da grade.
«Estás à espera do quê? Que o sol nasça?»
Sienna agarrou a pá. As suas pesquisas diziam-lhe que poderia escavar em volta da jaula e até mesmo parti-la se quisesse. Contudo, também podia usar os métodos dos ladrões de corpos e cavar apenas no local da lápide, partir uma das pontas do caixão podre e puxar o que queria do interior.
Enquanto Sienna cavava, o gato branco observava as sombras rodopiantes nos cantos escuros do cemitério. E cantos escuros era o que não faltava, sendo a noite escura de uma lua nova. Quando Sienna terminou, deitou-se na terra e enfiou o braço pelo caixão. O seu rosto meteu-se calmo e sem uma gota de suor enquanto vasculhava os restos mortais de quem quer que fosse que tivesse sido ali enterrado. De dentro, retirou um saco escuro que ameaçava desfazer-se a qualquer momento.
Sienna tapou rapidamente o buraco e endireitou a lápide. O processo foi repetido para mais duas sepulturas que os dois investigaram semanas antes. O dia estava quase a nascer quando Sienna e o gato de porcelana saíram do cemitério e regressaram a casa. Lá, Sienna despejou o conteúdo dos sacos no balcão da cozinha. Do interior caíram três pequenas estátuas de porcelana branca: um furão, um rato e uma coruja.
O gato branco pareceu rir-se. Agora teria companhia como ele e não apenas aquele fantoche aborrecido.
Episódio 3 - O Fantoche e a Carta
Sienna esfrega os olhos, tossindo. O gato de porcelana, empoleirado no seu ombro, espirrava perante a poeira repentina no ar. Olhando para o chão à sua frente, Sienna baixou-se e apanhou um pequeno envelope. Já lhe tinham acontecido coisas muito estranhas na sua longa vida. Porém, a sua vítima explodir em cinzas, deixando apenas um envelope no seu lugar, antes sequer de ela usar a sua arma, era algo inédito. E muito bizarro. Talvez até perturbador, fosse ela outra qualquer criatura.
“Sim, isto é muito arrepiante!” Os pensamentos do gato invadiram a mente dela, o seu pequeno corpo estremecendo.
O envelope era cinzento e, no interior, estava um cartão vermelho-sangue com apenas uma única palavra escrita a branco: Mors. Sienna sentiu as emoções do pequeno gato intensificarem-se e tornaram-se confusas. Parecia estar a chegar ao seu limite. Possivelmente por esse ser o seu nome, algo que não partilhara com mais ninguém a não ser com Sienna e suas outras duas metades. Incomodava-o assim tanto que mais alguém o soubesse?
Sienna esfrega os olhos, tossindo. O gato de porcelana, empoleirado no seu ombro, espirrava perante a poeira repentina no ar. Olhando para o chão à sua frente, Sienna baixou-se e apanhou um pequeno envelope. Já lhe tinham acontecido coisas muito estranhas na sua longa vida. Porém, a sua vítima explodir em cinzas, deixando apenas um envelope no seu lugar, antes sequer de ela usar a sua arma, era algo inédito. E muito bizarro. Talvez até perturbador, fosse ela outra qualquer criatura.
“Sim, isto é muito arrepiante!” Os pensamentos do gato invadiram a mente dela, o seu pequeno corpo estremecendo.
O envelope era cinzento e, no interior, estava um cartão vermelho-sangue com apenas uma única palavra escrita a branco: Mors. Sienna sentiu as emoções do pequeno gato intensificarem-se e tornaram-se confusas. Parecia estar a chegar ao seu limite. Possivelmente por esse ser o seu nome, algo que não partilhara com mais ninguém a não ser com Sienna e suas outras duas metades. Incomodava-o assim tanto que mais alguém o soubesse?
Episódio 4 - O Fantoche e o Ceifeiro
Disponível Brevemente
Disponível Brevemente
Episódio 5 - O Fantoche e a Criança
Disponível Brevemente (Resposta ao Desafio de Escrita da 3ª Edição da Revista Rabisca)
Disponível Brevemente (Resposta ao Desafio de Escrita da 3ª Edição da Revista Rabisca)