Sinopse
Minha irmã era uma péssima mentirosa. Dizia que tinha regressado por se ter chateado com o marido e, no entanto, não havia prova nenhuma de que fosse casada. Não tinha fotografias, nem sequer aliança no dedo. Porque teria ela regressado então? De que fugia ela para mentir tão descaradamente?
Minha irmã era uma péssima mentirosa. Dizia que tinha regressado por se ter chateado com o marido e, no entanto, não havia prova nenhuma de que fosse casada. Não tinha fotografias, nem sequer aliança no dedo. Porque teria ela regressado então? De que fugia ela para mentir tão descaradamente?
Comentário da Autora
Espectro nasceu no Verão de 2016. A minha primeira Mini Fic ou Mini-história (para quem preferir) propriamente dita baseada em "Prompts" ou pequenas frases inspiradoras que ia apanhando aqui e ali na Internet. Um pequeno Universo Alternativo criado num momento de frustração inspiracional em que não consegui criar eu própria um enredo sozinha ou mesmo trabalhar em outro projetos já iniciados/planeados. Ainda assim, estou bastante orgulhosa do resultado final e que este tenha sido reconhecido, vencendo-me um prémio posteriormente.
Espectro nasceu no Verão de 2016. A minha primeira Mini Fic ou Mini-história (para quem preferir) propriamente dita baseada em "Prompts" ou pequenas frases inspiradoras que ia apanhando aqui e ali na Internet. Um pequeno Universo Alternativo criado num momento de frustração inspiracional em que não consegui criar eu própria um enredo sozinha ou mesmo trabalhar em outro projetos já iniciados/planeados. Ainda assim, estou bastante orgulhosa do resultado final e que este tenha sido reconhecido, vencendo-me um prémio posteriormente.
História
Parte 1
Minha irmã era uma péssima mentirosa. Dizia que tinha regressado por se ter chateado com o marido e, no entanto, não havia prova nenhuma de que fosse casada. Não tinha fotografias, nem sequer aliança no dedo. Passava os dias fora de casa, sabe-se lá a fazer o quê, e evitava qualquer questão sobre o seu trabalho e vida antes de regressar. Os pais olham um para o outro preocupados cada vez que a pergunta não é respondida: o que aconteceu de tão grave com o marido. Oiço-os à noite a discutirem sobre contratar alguém que descubra a resposta. Porém acabam sempre por decidir esperar que a minha irmã lhes conte quando estiver pronta. No entanto, eu não vou esperar. Com uma rápida pesquisa, encontrei um detetive privado que morava perto de nós. Enviei-lhe um e-mail a combinar um encontro. Porém quem apareceu não era quem eu esperava.
Parte 2
Alguns meses antes.
Ela correu pelos esgotos. Tinha que se despachar. O seu tempo estava a acabar. Encostou ainda mais a manga do casaco ao nariz. Odiava aquele cheiro nojento mas não tinha escolha. Os velhos túneis tinham colapsado e agora estavam intransitáveis. Apenas os esgotos a podiam levar ao seu destino. Perguntou-se porque raio tinha aceite aquele trabalho. Não havia nada que pudesse ganhar com aquilo. Tendo em conta que não estava na sua jurisdição. Ainda assim, tinha aceite. Não tinha hipótese. Não podia recusar. Sentiu um arrepio subir-lhe as costas ao lembrar-se da expressão da sua superiora. Quando chegou ao seu destino, sacou a arma do seu coldre. A passagem tinha sido arrombada recentemente, a corrente ainda no chão. Empurrou devagar a porta, evitando a chiadeira normal em locais húmidos com portas de ferro. Ouviu alguém falar. Guardou a arma e agarrou antes na adaga. Tinha de ser silenciosa.
Parte 3
A minha irmã sentou-se à minha frente com um ar aborrecido e acusador. O que estava ela a fazer ali?
- Sabes, é feio investigar as pessoas nas costas delas. Principalmente, quando essas pessoas são da tua família. Continuas a tentar investigar-me, vais-te arrepender… maninha.
Ela levantou-se e aproximou o rosto do meu. Não me mexi. Não me consegui mexer. Esta sensação… não podia ser.
- Eu só te vou contar isto porque não serás capaz de contar a mais ninguém, maninha.
Os olhos dela, castanho-chocolate, mudaram de cor para um azul quase branco. Senti o meu coração saltar um batimento. Um arrepio eriçou-me os pêlos todos, mesmo os que eu não tinha. Ela sorriu. Ela tinha-me conseguido assustar e sabia-o perfeitamente. Eu tinha razão. Aquela sensação e aqueles olhos… a minha irmã mentirosa era um Espectro.
Parte 4
Alguns meses antes.
Ela entrou, observando as sombras em seu redor. Não havia mais ninguém a não ser aquelas duas figuras mais à frente. Reconheceu uma. Sentado numa cadeira e amarrado, aquele era o Espectro daquela zona. Seu colega de trabalho. O outro estava de costas e calado. Apenas o colega dela falava, pedindo que o deixasse ir. A distração dele não foi suficiente. Ela atacou-o com a adaga mas o seu inimigo conseguiu desviar-se. A falta de luz impedia-lhe de ver o rosto dele, assim como o lenço que ele usava. Ele hesitou por um momento e ela aproveitou para enfiar a adaga pelo coração dele. A última coisa que ouviu foi o seu colega gritar "não". Ela olhou para o Espectro e depois para o moribundo. O seu nome foi ouvido. Ela puxou o lenço do rosto dele e só então o reconheceu. Levantou-se, uma lágrima solitária escapando-lhe pelo rosto abaixo. Com o corpo tremendo de choque, deixou a adaga cair das suas mãos e correu.
Parte 5
Porque tinha ela voltado se era um Espectro? Então a resposta atingiu-me como um raio. O marido dela estava morto. E tinha sido ela a matá-lo. Era a única possibilidade. Não havia mais nenhuma. Além de mentirosa, de não-humana, a minha irmã era uma assassina. Eu tinha de avisar os pais. Entrei em casa a correr e a chamar pelos meus pais. Encontrei-os na sala com a minha irmã. A ameaça no olhar dela era mais do que óbvia. Se eu contasse a quem quer que fosse, um corpo aparecia no dia seguinte. Afinal de contas, um Espectro não tinha sentimentos, não tinha remorsos. E ela estava ali para se esconder das autoridades. Ela não queria ser presa. Tinha ouvido os rumores, todos tinham. E era por isso que ela se escondia. Aquele lugar, aquela… “prisão” era a única coisa que os Espectros temiam. E ela não queria ir para lá. Engoli em seco e perguntei-lhes se queriam alguma coisa do mercado.
Parte 6
Alguns meses antes
Ela meteu-se no carro e agarrou-se ao volante com todas as suas forças. Aquilo não podia estar a acontecer. Não podia! Como? Como é que aquilo tinha acontecido? Como é que ela se transformara num Espectro? Não. Não. Não!
O seu telefone tocou mas ignorou-o. No meio do seu choro, nem sequer conseguia ouvir o toque. A porta do pendura abriu-se, assustando-a. O seu colega entrou.
- Não é tão mau quanto parece.
Ela olhou para ele de lado. Claro que ele pensava assim. Há já vinte anos que ele era um Espectro. Ele provavelmente já nem se lembrava o que era ser humano.
- Ao início, vai ser difícil controlar a dor. E outras coisas… mas afasta-te da organização por agora. Envia o relatório por mensageiro que eu trato do resto. Eu ajudo-te se assim quiseres porém vais ter de viver com humanos para que não te possam encontrar.
Parte 7
A minha irmã era uma péssima mentirosa. Trabalhava para uma organização de espionagem governamental cujo lema era a erradicação dos Imortais. Tinha-se casado com um terrorista. Tinha morto o seu marido para resgatar um colega de trabalho imortal. Tinha-se tornado um monstro, no processo. E agora estava a ser levada pelas forças policiais sem sequer se esforçar por escapar. Depois de todas as ameaças que me tinha feito, depois de tanta tortura emocional e de tanto temer ser levada, nem sequer tentava escapar? Qual era a ideia dela? Mas o que é que ela queria de mim? Dos meus pais? O que é que ela fora ali fazer então?
O detetive tentava acalmar os meus pais que estavam desfeitos em lágrimas. A minha irmã olhou para mim com um sorriso apologético através da janela do carro. Os seus olhos mudaram e o carro explodiu.
E então acabou. Foi a última vez que nos vimos.
Fim
Parte 1
Minha irmã era uma péssima mentirosa. Dizia que tinha regressado por se ter chateado com o marido e, no entanto, não havia prova nenhuma de que fosse casada. Não tinha fotografias, nem sequer aliança no dedo. Passava os dias fora de casa, sabe-se lá a fazer o quê, e evitava qualquer questão sobre o seu trabalho e vida antes de regressar. Os pais olham um para o outro preocupados cada vez que a pergunta não é respondida: o que aconteceu de tão grave com o marido. Oiço-os à noite a discutirem sobre contratar alguém que descubra a resposta. Porém acabam sempre por decidir esperar que a minha irmã lhes conte quando estiver pronta. No entanto, eu não vou esperar. Com uma rápida pesquisa, encontrei um detetive privado que morava perto de nós. Enviei-lhe um e-mail a combinar um encontro. Porém quem apareceu não era quem eu esperava.
Parte 2
Alguns meses antes.
Ela correu pelos esgotos. Tinha que se despachar. O seu tempo estava a acabar. Encostou ainda mais a manga do casaco ao nariz. Odiava aquele cheiro nojento mas não tinha escolha. Os velhos túneis tinham colapsado e agora estavam intransitáveis. Apenas os esgotos a podiam levar ao seu destino. Perguntou-se porque raio tinha aceite aquele trabalho. Não havia nada que pudesse ganhar com aquilo. Tendo em conta que não estava na sua jurisdição. Ainda assim, tinha aceite. Não tinha hipótese. Não podia recusar. Sentiu um arrepio subir-lhe as costas ao lembrar-se da expressão da sua superiora. Quando chegou ao seu destino, sacou a arma do seu coldre. A passagem tinha sido arrombada recentemente, a corrente ainda no chão. Empurrou devagar a porta, evitando a chiadeira normal em locais húmidos com portas de ferro. Ouviu alguém falar. Guardou a arma e agarrou antes na adaga. Tinha de ser silenciosa.
Parte 3
A minha irmã sentou-se à minha frente com um ar aborrecido e acusador. O que estava ela a fazer ali?
- Sabes, é feio investigar as pessoas nas costas delas. Principalmente, quando essas pessoas são da tua família. Continuas a tentar investigar-me, vais-te arrepender… maninha.
Ela levantou-se e aproximou o rosto do meu. Não me mexi. Não me consegui mexer. Esta sensação… não podia ser.
- Eu só te vou contar isto porque não serás capaz de contar a mais ninguém, maninha.
Os olhos dela, castanho-chocolate, mudaram de cor para um azul quase branco. Senti o meu coração saltar um batimento. Um arrepio eriçou-me os pêlos todos, mesmo os que eu não tinha. Ela sorriu. Ela tinha-me conseguido assustar e sabia-o perfeitamente. Eu tinha razão. Aquela sensação e aqueles olhos… a minha irmã mentirosa era um Espectro.
Parte 4
Alguns meses antes.
Ela entrou, observando as sombras em seu redor. Não havia mais ninguém a não ser aquelas duas figuras mais à frente. Reconheceu uma. Sentado numa cadeira e amarrado, aquele era o Espectro daquela zona. Seu colega de trabalho. O outro estava de costas e calado. Apenas o colega dela falava, pedindo que o deixasse ir. A distração dele não foi suficiente. Ela atacou-o com a adaga mas o seu inimigo conseguiu desviar-se. A falta de luz impedia-lhe de ver o rosto dele, assim como o lenço que ele usava. Ele hesitou por um momento e ela aproveitou para enfiar a adaga pelo coração dele. A última coisa que ouviu foi o seu colega gritar "não". Ela olhou para o Espectro e depois para o moribundo. O seu nome foi ouvido. Ela puxou o lenço do rosto dele e só então o reconheceu. Levantou-se, uma lágrima solitária escapando-lhe pelo rosto abaixo. Com o corpo tremendo de choque, deixou a adaga cair das suas mãos e correu.
Parte 5
Porque tinha ela voltado se era um Espectro? Então a resposta atingiu-me como um raio. O marido dela estava morto. E tinha sido ela a matá-lo. Era a única possibilidade. Não havia mais nenhuma. Além de mentirosa, de não-humana, a minha irmã era uma assassina. Eu tinha de avisar os pais. Entrei em casa a correr e a chamar pelos meus pais. Encontrei-os na sala com a minha irmã. A ameaça no olhar dela era mais do que óbvia. Se eu contasse a quem quer que fosse, um corpo aparecia no dia seguinte. Afinal de contas, um Espectro não tinha sentimentos, não tinha remorsos. E ela estava ali para se esconder das autoridades. Ela não queria ser presa. Tinha ouvido os rumores, todos tinham. E era por isso que ela se escondia. Aquele lugar, aquela… “prisão” era a única coisa que os Espectros temiam. E ela não queria ir para lá. Engoli em seco e perguntei-lhes se queriam alguma coisa do mercado.
Parte 6
Alguns meses antes
Ela meteu-se no carro e agarrou-se ao volante com todas as suas forças. Aquilo não podia estar a acontecer. Não podia! Como? Como é que aquilo tinha acontecido? Como é que ela se transformara num Espectro? Não. Não. Não!
O seu telefone tocou mas ignorou-o. No meio do seu choro, nem sequer conseguia ouvir o toque. A porta do pendura abriu-se, assustando-a. O seu colega entrou.
- Não é tão mau quanto parece.
Ela olhou para ele de lado. Claro que ele pensava assim. Há já vinte anos que ele era um Espectro. Ele provavelmente já nem se lembrava o que era ser humano.
- Ao início, vai ser difícil controlar a dor. E outras coisas… mas afasta-te da organização por agora. Envia o relatório por mensageiro que eu trato do resto. Eu ajudo-te se assim quiseres porém vais ter de viver com humanos para que não te possam encontrar.
Parte 7
A minha irmã era uma péssima mentirosa. Trabalhava para uma organização de espionagem governamental cujo lema era a erradicação dos Imortais. Tinha-se casado com um terrorista. Tinha morto o seu marido para resgatar um colega de trabalho imortal. Tinha-se tornado um monstro, no processo. E agora estava a ser levada pelas forças policiais sem sequer se esforçar por escapar. Depois de todas as ameaças que me tinha feito, depois de tanta tortura emocional e de tanto temer ser levada, nem sequer tentava escapar? Qual era a ideia dela? Mas o que é que ela queria de mim? Dos meus pais? O que é que ela fora ali fazer então?
O detetive tentava acalmar os meus pais que estavam desfeitos em lágrimas. A minha irmã olhou para mim com um sorriso apologético através da janela do carro. Os seus olhos mudaram e o carro explodiu.
E então acabou. Foi a última vez que nos vimos.
Fim