Notas da Autora
Este foi o primeiro episódio de todos a ser escrito. As origens de Liliane. Quando a mista Liliane aparece pela primeira vez, descobrimos que ela é uma ninfa-xamã e que ambas as espécies, ninfas e xamãs, se odeiam mutuamente. O que torna a sua existência extremamente improvável. Criei este episódio para esclarecer como é que isso aconteceu. Liliane, com a sua magia e sabedoria, é uma das minhas personagens favoritas desta história logo a seguir a Tempus e à Bruxa, que é a minha personagem favorita de todas apesar de ser a inimiga do nosso personagem principal.
Este foi o primeiro episódio de todos a ser escrito. As origens de Liliane. Quando a mista Liliane aparece pela primeira vez, descobrimos que ela é uma ninfa-xamã e que ambas as espécies, ninfas e xamãs, se odeiam mutuamente. O que torna a sua existência extremamente improvável. Criei este episódio para esclarecer como é que isso aconteceu. Liliane, com a sua magia e sabedoria, é uma das minhas personagens favoritas desta história logo a seguir a Tempus e à Bruxa, que é a minha personagem favorita de todas apesar de ser a inimiga do nosso personagem principal.
Garnet e Abnara
- Skeoz, espera!
Abnara chamou. A alta ninfa procurou entre a vegetação. porém Skeoz conseguia vê-la à distância. o seu cabelo vermelho-fogo não passava despercebido. O rosto de pele clara virou na sua direção, deixando-o ver a prata nos seus olhos. Skeoz também tinha os olhos prateados, herdados da mãe de ambos. Com 23 anos, Skeoz ainda era um bebé na sociedade. Mas Abnara iria se tornar adulta daí a uma semana e não brincaria mais com ele. Ela seria das concorrentes mais velhas a participarem, com os seus 173 anos, feitos há três meses. Skeoz afastou-se do seu esconderijo e correu em direção à gruta que tinha visto há uns dias. na entrada chocou com alguém. Skeoz sentou-se, esfregando o nariz.
- Estás bem?
Skeoz olhou para cima. Os seus olhos arregalaram-se ao ver-se na presença de um xamã. Seriam as histórias verdadeiras? Acenou.
- Também estás à procura da pedra que arde? - perguntou o xamã, sorrindo.
Skeoz sentiu a presença de Abnara e levantou-se. Recomeçou a corrida. Olhou uma última vez para o xamã, pensando nas histórias.
Garnet dos Gyan observou o jovem ninfo fugir. Uma ninfa de cabelo de fogo apareceu do lado oposto. Ela corria atrás do jovem ninfo. Garnet virou as costas. Não lhe interessava o que um par de ninfas andava a fazer tão longe das proteções da sua cidade. Olhou para o interior da caverna dos anões, onde se dizia guardada a pedra que arde. Tinha que descobrir se tal pedra existia antes de preparar os combates do ritual.
Abnara observou o grande coliseu dos rituais no interior da grande montanha dos anões. As histórias diziam que o fogo nascia naquele preciso local, muitos e muitos anos atrás. Ao que parecia, nem os xamãs, conhecidos pela sua imortalidade, sabiam se as histórias eram verdadeiras. Apesar de imortais, não pareciam ter boa memória. Do centro do ringue, Abnara conseguia ver Tempus e outra criatura. Seria ela a criatura do ovo? Tempus deu início aos combates. As regras eram simples:
1ª fase: combate dois-a-dois; objetivo - reduzir número de participantes para 200.
2ª fase: jogos de armas - arremesso de pesos, lançamento de lanças, arco e flecha (coisas que nenhum dos clãs realmente aprovava); objetivo - reduzir participantes para 100.
3ª fase: combates um-a-um (por vezes contra membros do mesmo clã); objetivo - reduzir participantes para 30.
4ª e última fase: sobrevivência - participantes têm de sobreviver até ao soar das trompas do coliseu e batalhar até alcançarem as proteções das suas cidades.
Tudo isto tinha a duração de aproximadamente 10 meses e acontecia de 25 em 25 anos. A participação era obrigatória a todos os que acabavam de fazer 150 anos ou a todos os que não tenham participado no ritual de maioridade anterior. Portanto, geralmente, o ser mais velho tinha 174 anos.
Abnara conseguiu ultrapassar todos os desafios até ao da sobrevivência. Tinham passado três meses desde que começaram. A contar com ela, apenas 12 ninfas e ninfos passaram. Abnara observou os 18 xamãs. As suas fêmeas nunca participavam por isso a sua idade mínima era de 125. Abnara observou os rostos, decorando-os. Se se cruzasse com um xamã queria ter a certeza que era um participante. Perder por lutar desnecessariamente não estava nos seus planos.
Tempus levantou-se. Ia teletransportá-los para vários pontos da ilha. Ninguém sabia onde ele os deixaria. Abnara fechou os olhos, tal como os outros. Quando sentiu o cheiro do orvalho nas folhas, abriu os olhos. Já ali tinha estado. Ficava ao pé da gruta daquele xamã. Abnara correu até chegar à entrada de uma gruta.
- Não é esta.
Abnara continuou a correr. Parou ao ver outra gruta. Era a mesma.
- Uma ilusão?
Abnara juntou as mãos e fechou os olhos. O centro da ilusão estava dentro da gruta. Tinha de a atravessar para encontrar e destruir o ponto ilusório. Ao entrar na gruta, arrependeu-se. Estava demasiado escuro e já não conseguia voltar atrás. Caminhou com cuidado. A meio, um rugido soou pelo túnel estreito. Abnara reconheceu como sendo o de um leopardo. Há muito que não via um. Os leopardos eram meigos por isso Abnara não teve medo. Quando lhe tocou, apercebeu-se que a criatura era o ponto ilusório.
- Que brincadeira cruel, meu senhor Tempus. - sussurrou Abnara.
Agarrou na única arma que era permitida aos concorrentes, a faca de lâmina dupla. Pedindo ao leopardo que a perdoasse, degolou-o. A gruta à sua volta desapareceu. Estava numa clareira. Abnara chorou e enterrou como a um dos seus o leopardo sacrificado. No entanto, o sangue atraiu uma quimera. A criatura adorava caçar leopardos, daí haverem tão poucos. Abnara sentiu-se na obrigação de proteger o cadáver do leopardo, uma vez que não o conseguira poupar a tão cruel morte.
Garnet seguia as pegadas do Antigo. Não era a sua zona habitual por isso algo o tinha atraído. Ao ver o Antigo, estacou. Por baixo dele, estava a ninfa de cabelo de fogo. Ela estava inconsciente.
- Quimera. Sabes que não podes fazer isso. Conheces as regras.
O Antigo afastou-se da ninfa como se resmungasse. Saiu da clareira.
Garnet viu o cadáver de outro Antigo mal enterrado. A ninfa estava a protegê-lo do Antigo quimera. Por que razão teria ela morto aquele Antigo? Garnet olhou para a ninfa. Se a deixasse ali, ela morreria. Carregou-a às costas até chegar à gruta da pedra que arde. Começou a tratar-lhe das feridas, todas provocadas pelo Antigo quimera. Quando acabou observou a ninfa. Era suposto odiá-la só por ela ser ninfa. Porém esse ódio era demasiado irracional, para ele. A cor do seu cabelo era rara em qualquer espécie. Vermelho-fogo. Assim como os seus olhos. Se bem se lembrava, ela tinha olhos de prata. Ela lembrava-lhe Alyss. Por isso é que tinha decidido ajudá-la. A ninfa era de beleza rara. Ao contrário de Garnet. Como muitos de várias espécies, tinha o cabelo castanho. E, como muitas outras espécies, tinha os olhos verdes. Garnet pensou no jovem ninfo. Ele também tinha olhos prateados, mas mais escuros. Talvez fossem da mesma família.
Durante uma semana, Abnara dormiu. Durante uma semana, Garnet cuidou dela.
Abnara, finalmente, abriu os olhos. Percebeu que estava numa caverna mas não se lembrava de lá ter ido parar. Levantou-se. Reparou nos curativos. Alguém a tinha levado para ali. Quando saiu, uma maçã voou na sua direção. Abnara apanhou-a, olhando na direção de um xamã. Nos seus braços, ele trazia mais maçãs.
- Deves ter fome.
- Tu não és um dos participantes.
Ele sorriu. Abnara franziu o sobrolho. Contrariada, seguiu o xamã para dentro da caverna. Abnara lembrava-se vagamente dele. Na altura, não tinha reparado nele por ser tão... normal. Abnara comeu a maçã em silêncio. O xamã observava-a enquanto ela comia.
- Como te chamas? - perguntou Abnara.
- Garnet dos Gyan.
- Gyan? Então, tu és um guardião dos rituais?
Garnet acenou com a cabeça. Abnara lembrava-se vagamente do nome Garnet de uma história que a sua mãe contara. Seria este Garnet?
- Tu és aquele que passou os rituais sem derramar uma gota de sangue, não és?
Garnet sorriu. Abnara lembrou-se da mãe. Ela dissera que fizera o ritual com um xamã que se recusava a derramar sangue e que a ajudou, voluntariamente. Por pena, Alyss, mãe de Abnara, não o iludiu e deu-lhe o nome Garnet, que significava protetor. Em troca, Garnet prometeu ajudar a família de Alyss.
- Seria de esperar que a filha de Alyss, olhos de prata, fosse como a mãe.
Garnet sorriu. A ninfa desviou os olhos. Garnet ouviu o murmúrio das folhas. Alguém tinha-se aproximado da gruta. Garnet levantou-se. Abnara seguiu-o com o olhar. Chamar uma ninfa de «olhos de..» era indicá-la como sua mestra, para um xamã. No entanto, os iludidos nunca pronunciavam o nome do mestre. Alyss tinha dito a verdade sobre não o ter iludido. Então, Garnet devia de respeitá-la muito para falar dela assim.
- Um xamã? Que interessante.
Abnara fez uma careta ao reconhecer a voz de Joenx. Correu para fora da gruta. Joenx e Garnet lutavam. Quer dizer, Joenx lutava e Garnet esquivava todos os golpes. Garnet, quando viu Abnara, sorriu. Desviou-se de Joenx e ajoelhou-se à frente dela.
- Olhos de prata. Lamento que a sua refeição tenha sido interrompida.
Joenx parou e riu.
- Então este deixou-se apanhar? No entanto, não me lembro de o ver no coliseu.
- Isso é porque ele é um Gyan.
- Um guardião?!
Joenx arregalou os olhos. Abnara acenou com a cabeça, olhando de lado para Garnet. Joenx sorriu cinicamente.
- Muito bem, Abnara. Iludiste um poderoso.
Abnara ignorou-o. Era quase impossível iludir um guardião, pois estes eram os mais inteligentes da espécie. Mesmo as quatro princesas-guerreiras ninfas, as consideradas mais poderosas, evitavam os Gyan. Garnet observou com interesse o rosto da filha de Alyss, olhos de prata. O outro ninfo já se tinha ido embora. Provavelmente, espalharia a notícia de que Abnara, olhos de Prata, iludira um Guardião. O quanto se enganava o ninfo e o quanto desejava Garnet que fosse verdade. Obedecer a tão única ninfa seria certamente um prazer.
- Porque fizeste isso?
Garnet levantou-se.
- O que seria dito se eu não o fizesse?
Abnara compreendeu o raciocínio de Garnet. Ela seria exilada se se descobrisse que fora ajudada por um xamã. Guardião ou não, Garnet não podia ajudar os participantes. Apenas podia intervir quando um Antigo estivesse envolvido. Os Antigos não podiam atacar os participantes nem estes ferir um Antigo. Abnara quebrara as regras e era função de Garnet puni-la. Porém, Abnara não compreendia porque ele não o fazia.
- Eu matei um Antigo.
- Eu sei.
- É tua função punir-me.
- Já o fiz.
Abnara cerrou os olhos. Sim, ter um iludido que não o era. Se fosse descoberta, podia perder a vida. Assim como ele. E, apesar de tudo, ela devia a vida a Garnet. Não tinha a certeza, pois não se lembrava, mas ele salvara-a da Quimera. Abnara suspirou. Agora tinha que conviver com ele até ao fim dos rituais, altura em que seria decidido o seu destino. Só teria de esperar três meses para voltar a casa. Depois mais uns quantos para os funerais e celebrações. Porém, nessa altura, talvez já não tivesse Garnet a seu lado.
Garnet seguiu atrás de Abnara. A cidade das ninfas era realmente bonita, simples demais para o seu gosto, mas bonita. Para além de Abnara, apenas dois ninfos e uma ninfa sobreviveram. Garnet lembrava-se deles. Joenx, Siles e Xerez. Joenx tinha os cabelos negros e olhos azuis-escuros. Siles tinha cabelo acobreado e olhos amarelos, como um leopardo. Xerez tinha o cabelo castanho-escuro, como terra molhada, e olhos vermelhos, como muitos ninfos e ninfas. Segundo Abnara, Joenx era o seu prometido visto ser descendente de sereias. Garnet, no entanto, não conseguia provas de tal ascendência nele, para além dos olhos. Apesar da cor azul no olhar ou cabelos ser invulgar nas criaturas terrestres, não provava o que era dito sobre Joenx.
Abnara percebeu os olhares de admiração e alguns de suspeita dos da sua espécie. Um descendente de Gyan muito mais velho que ela e, portanto, mais poderoso e ela conseguira iludi-lo. As quatro Princesas-guerreiras ficaram surpreendidas ao ver Garnet. A mais velha era a única que ainda conservava o seu iludido. O seu nome era Saranin e o do seu iludido já tinha sido esquecido há muito tempo atrás. Agora, ele era Yjui, o covarde. Saranin levantou-se e perguntou a Garnet:
- Como te chamas? Quem serves?
- Garnet e sirvo Olhos de Prata.
Ela avaliou o xamã. Abnara fez um esforço por não se contorcer no seu lugar.
- Vieram-me dizer que és um Gyan.
Abnara apercebeu-se dos olhares incrédulos e comentários envenenados e invejosos, sussurrados até pelas três princesas sem iludido. Garnet ignorou-os e respondeu, calmo:
- Sou um Gyan.
O iludido Yjui levantou o olhar, sem se mover um milímetro sequer do seu lugar. Saranin olhou de lado para ele quando este sussurrou algo. Ela pareceu considerar as palavras de Yjui. Abnara ficou preocupada. Yjui era famoso pela sua capacidade de discernir as ligações entre ninfa e iludido. O destino de Garnet e Abnara estava dependente do que Yjui veria neles e do que Saranin entendesse das suas palavras.
- Abnara, olhos de prata, ilusionista de Guardiões.
Abnara surpreendeu-se ao ouvir o seu título. Saranin estava-lhe a dar hipótese de se pronunciar. O que Abnara dissesse neste momento determinaria a escolha de Saranin.
- Qual o veredicto de minha princesa Saranin, olhos de cobre, e de Yjui, o covarde?
- Essa é que eu nunca tinha ouvido!
A espécie ninfa começou a rir em coro. Saranin, no entanto, estava surpreendida. Yjui sorriu. Saranin levantou a mão e o silêncio voltou a instalar-se.
- Yjui disse-me algo que eu não esperava ouvir sobre a vossa ligação. Porém eu desejo saber mais. Garnet, o protetor, viverá para servir Abnara, olhos de prata, ilusionista de Guardiões.
Abnara, surpresa e aliviada, fez uma vénia. Tinha certeza que Yjui tinha visto o que os tinha ligado. Porém não esperava que Saranin realmente deixasse passar esta infração. Abnara esperou que Saranin desse umas palavras aos outros três sobreviventes dos rituais. Uma hora mais tarde, encontrou-se com Alyss em frente ao carvalho que servia de sua casa.
- Garnet. Bons olhos te vejam.
- Que bonitos olhos são. - Sussurrou Garnet.
- Abnara, tu iludiste-o de verdade?
- Mãe... foi ele quem me iludiu.
Abnara e Garnet olharam um para o outro. Naqueles últimos meses, um amor nasceu entre eles. Alyss sorriu ao ver a filha feliz.
- Nem todos aceitariam a vossa relação, mesmo com Saranin do vosso lado. Veremos o que acontece agora.
Abnara assentiu com a cabeça. Deu uma mão a Garnet e pousou a outra sobre a barriga. Tinha que correr tudo bem. Pela sua filha, Abnara faria com que corresse tudo bem. Por Liliane.
Fim do Episódio
- Skeoz, espera!
Abnara chamou. A alta ninfa procurou entre a vegetação. porém Skeoz conseguia vê-la à distância. o seu cabelo vermelho-fogo não passava despercebido. O rosto de pele clara virou na sua direção, deixando-o ver a prata nos seus olhos. Skeoz também tinha os olhos prateados, herdados da mãe de ambos. Com 23 anos, Skeoz ainda era um bebé na sociedade. Mas Abnara iria se tornar adulta daí a uma semana e não brincaria mais com ele. Ela seria das concorrentes mais velhas a participarem, com os seus 173 anos, feitos há três meses. Skeoz afastou-se do seu esconderijo e correu em direção à gruta que tinha visto há uns dias. na entrada chocou com alguém. Skeoz sentou-se, esfregando o nariz.
- Estás bem?
Skeoz olhou para cima. Os seus olhos arregalaram-se ao ver-se na presença de um xamã. Seriam as histórias verdadeiras? Acenou.
- Também estás à procura da pedra que arde? - perguntou o xamã, sorrindo.
Skeoz sentiu a presença de Abnara e levantou-se. Recomeçou a corrida. Olhou uma última vez para o xamã, pensando nas histórias.
Garnet dos Gyan observou o jovem ninfo fugir. Uma ninfa de cabelo de fogo apareceu do lado oposto. Ela corria atrás do jovem ninfo. Garnet virou as costas. Não lhe interessava o que um par de ninfas andava a fazer tão longe das proteções da sua cidade. Olhou para o interior da caverna dos anões, onde se dizia guardada a pedra que arde. Tinha que descobrir se tal pedra existia antes de preparar os combates do ritual.
Abnara observou o grande coliseu dos rituais no interior da grande montanha dos anões. As histórias diziam que o fogo nascia naquele preciso local, muitos e muitos anos atrás. Ao que parecia, nem os xamãs, conhecidos pela sua imortalidade, sabiam se as histórias eram verdadeiras. Apesar de imortais, não pareciam ter boa memória. Do centro do ringue, Abnara conseguia ver Tempus e outra criatura. Seria ela a criatura do ovo? Tempus deu início aos combates. As regras eram simples:
1ª fase: combate dois-a-dois; objetivo - reduzir número de participantes para 200.
2ª fase: jogos de armas - arremesso de pesos, lançamento de lanças, arco e flecha (coisas que nenhum dos clãs realmente aprovava); objetivo - reduzir participantes para 100.
3ª fase: combates um-a-um (por vezes contra membros do mesmo clã); objetivo - reduzir participantes para 30.
4ª e última fase: sobrevivência - participantes têm de sobreviver até ao soar das trompas do coliseu e batalhar até alcançarem as proteções das suas cidades.
Tudo isto tinha a duração de aproximadamente 10 meses e acontecia de 25 em 25 anos. A participação era obrigatória a todos os que acabavam de fazer 150 anos ou a todos os que não tenham participado no ritual de maioridade anterior. Portanto, geralmente, o ser mais velho tinha 174 anos.
Abnara conseguiu ultrapassar todos os desafios até ao da sobrevivência. Tinham passado três meses desde que começaram. A contar com ela, apenas 12 ninfas e ninfos passaram. Abnara observou os 18 xamãs. As suas fêmeas nunca participavam por isso a sua idade mínima era de 125. Abnara observou os rostos, decorando-os. Se se cruzasse com um xamã queria ter a certeza que era um participante. Perder por lutar desnecessariamente não estava nos seus planos.
Tempus levantou-se. Ia teletransportá-los para vários pontos da ilha. Ninguém sabia onde ele os deixaria. Abnara fechou os olhos, tal como os outros. Quando sentiu o cheiro do orvalho nas folhas, abriu os olhos. Já ali tinha estado. Ficava ao pé da gruta daquele xamã. Abnara correu até chegar à entrada de uma gruta.
- Não é esta.
Abnara continuou a correr. Parou ao ver outra gruta. Era a mesma.
- Uma ilusão?
Abnara juntou as mãos e fechou os olhos. O centro da ilusão estava dentro da gruta. Tinha de a atravessar para encontrar e destruir o ponto ilusório. Ao entrar na gruta, arrependeu-se. Estava demasiado escuro e já não conseguia voltar atrás. Caminhou com cuidado. A meio, um rugido soou pelo túnel estreito. Abnara reconheceu como sendo o de um leopardo. Há muito que não via um. Os leopardos eram meigos por isso Abnara não teve medo. Quando lhe tocou, apercebeu-se que a criatura era o ponto ilusório.
- Que brincadeira cruel, meu senhor Tempus. - sussurrou Abnara.
Agarrou na única arma que era permitida aos concorrentes, a faca de lâmina dupla. Pedindo ao leopardo que a perdoasse, degolou-o. A gruta à sua volta desapareceu. Estava numa clareira. Abnara chorou e enterrou como a um dos seus o leopardo sacrificado. No entanto, o sangue atraiu uma quimera. A criatura adorava caçar leopardos, daí haverem tão poucos. Abnara sentiu-se na obrigação de proteger o cadáver do leopardo, uma vez que não o conseguira poupar a tão cruel morte.
Garnet seguia as pegadas do Antigo. Não era a sua zona habitual por isso algo o tinha atraído. Ao ver o Antigo, estacou. Por baixo dele, estava a ninfa de cabelo de fogo. Ela estava inconsciente.
- Quimera. Sabes que não podes fazer isso. Conheces as regras.
O Antigo afastou-se da ninfa como se resmungasse. Saiu da clareira.
Garnet viu o cadáver de outro Antigo mal enterrado. A ninfa estava a protegê-lo do Antigo quimera. Por que razão teria ela morto aquele Antigo? Garnet olhou para a ninfa. Se a deixasse ali, ela morreria. Carregou-a às costas até chegar à gruta da pedra que arde. Começou a tratar-lhe das feridas, todas provocadas pelo Antigo quimera. Quando acabou observou a ninfa. Era suposto odiá-la só por ela ser ninfa. Porém esse ódio era demasiado irracional, para ele. A cor do seu cabelo era rara em qualquer espécie. Vermelho-fogo. Assim como os seus olhos. Se bem se lembrava, ela tinha olhos de prata. Ela lembrava-lhe Alyss. Por isso é que tinha decidido ajudá-la. A ninfa era de beleza rara. Ao contrário de Garnet. Como muitos de várias espécies, tinha o cabelo castanho. E, como muitas outras espécies, tinha os olhos verdes. Garnet pensou no jovem ninfo. Ele também tinha olhos prateados, mas mais escuros. Talvez fossem da mesma família.
Durante uma semana, Abnara dormiu. Durante uma semana, Garnet cuidou dela.
Abnara, finalmente, abriu os olhos. Percebeu que estava numa caverna mas não se lembrava de lá ter ido parar. Levantou-se. Reparou nos curativos. Alguém a tinha levado para ali. Quando saiu, uma maçã voou na sua direção. Abnara apanhou-a, olhando na direção de um xamã. Nos seus braços, ele trazia mais maçãs.
- Deves ter fome.
- Tu não és um dos participantes.
Ele sorriu. Abnara franziu o sobrolho. Contrariada, seguiu o xamã para dentro da caverna. Abnara lembrava-se vagamente dele. Na altura, não tinha reparado nele por ser tão... normal. Abnara comeu a maçã em silêncio. O xamã observava-a enquanto ela comia.
- Como te chamas? - perguntou Abnara.
- Garnet dos Gyan.
- Gyan? Então, tu és um guardião dos rituais?
Garnet acenou com a cabeça. Abnara lembrava-se vagamente do nome Garnet de uma história que a sua mãe contara. Seria este Garnet?
- Tu és aquele que passou os rituais sem derramar uma gota de sangue, não és?
Garnet sorriu. Abnara lembrou-se da mãe. Ela dissera que fizera o ritual com um xamã que se recusava a derramar sangue e que a ajudou, voluntariamente. Por pena, Alyss, mãe de Abnara, não o iludiu e deu-lhe o nome Garnet, que significava protetor. Em troca, Garnet prometeu ajudar a família de Alyss.
- Seria de esperar que a filha de Alyss, olhos de prata, fosse como a mãe.
Garnet sorriu. A ninfa desviou os olhos. Garnet ouviu o murmúrio das folhas. Alguém tinha-se aproximado da gruta. Garnet levantou-se. Abnara seguiu-o com o olhar. Chamar uma ninfa de «olhos de..» era indicá-la como sua mestra, para um xamã. No entanto, os iludidos nunca pronunciavam o nome do mestre. Alyss tinha dito a verdade sobre não o ter iludido. Então, Garnet devia de respeitá-la muito para falar dela assim.
- Um xamã? Que interessante.
Abnara fez uma careta ao reconhecer a voz de Joenx. Correu para fora da gruta. Joenx e Garnet lutavam. Quer dizer, Joenx lutava e Garnet esquivava todos os golpes. Garnet, quando viu Abnara, sorriu. Desviou-se de Joenx e ajoelhou-se à frente dela.
- Olhos de prata. Lamento que a sua refeição tenha sido interrompida.
Joenx parou e riu.
- Então este deixou-se apanhar? No entanto, não me lembro de o ver no coliseu.
- Isso é porque ele é um Gyan.
- Um guardião?!
Joenx arregalou os olhos. Abnara acenou com a cabeça, olhando de lado para Garnet. Joenx sorriu cinicamente.
- Muito bem, Abnara. Iludiste um poderoso.
Abnara ignorou-o. Era quase impossível iludir um guardião, pois estes eram os mais inteligentes da espécie. Mesmo as quatro princesas-guerreiras ninfas, as consideradas mais poderosas, evitavam os Gyan. Garnet observou com interesse o rosto da filha de Alyss, olhos de prata. O outro ninfo já se tinha ido embora. Provavelmente, espalharia a notícia de que Abnara, olhos de Prata, iludira um Guardião. O quanto se enganava o ninfo e o quanto desejava Garnet que fosse verdade. Obedecer a tão única ninfa seria certamente um prazer.
- Porque fizeste isso?
Garnet levantou-se.
- O que seria dito se eu não o fizesse?
Abnara compreendeu o raciocínio de Garnet. Ela seria exilada se se descobrisse que fora ajudada por um xamã. Guardião ou não, Garnet não podia ajudar os participantes. Apenas podia intervir quando um Antigo estivesse envolvido. Os Antigos não podiam atacar os participantes nem estes ferir um Antigo. Abnara quebrara as regras e era função de Garnet puni-la. Porém, Abnara não compreendia porque ele não o fazia.
- Eu matei um Antigo.
- Eu sei.
- É tua função punir-me.
- Já o fiz.
Abnara cerrou os olhos. Sim, ter um iludido que não o era. Se fosse descoberta, podia perder a vida. Assim como ele. E, apesar de tudo, ela devia a vida a Garnet. Não tinha a certeza, pois não se lembrava, mas ele salvara-a da Quimera. Abnara suspirou. Agora tinha que conviver com ele até ao fim dos rituais, altura em que seria decidido o seu destino. Só teria de esperar três meses para voltar a casa. Depois mais uns quantos para os funerais e celebrações. Porém, nessa altura, talvez já não tivesse Garnet a seu lado.
Garnet seguiu atrás de Abnara. A cidade das ninfas era realmente bonita, simples demais para o seu gosto, mas bonita. Para além de Abnara, apenas dois ninfos e uma ninfa sobreviveram. Garnet lembrava-se deles. Joenx, Siles e Xerez. Joenx tinha os cabelos negros e olhos azuis-escuros. Siles tinha cabelo acobreado e olhos amarelos, como um leopardo. Xerez tinha o cabelo castanho-escuro, como terra molhada, e olhos vermelhos, como muitos ninfos e ninfas. Segundo Abnara, Joenx era o seu prometido visto ser descendente de sereias. Garnet, no entanto, não conseguia provas de tal ascendência nele, para além dos olhos. Apesar da cor azul no olhar ou cabelos ser invulgar nas criaturas terrestres, não provava o que era dito sobre Joenx.
Abnara percebeu os olhares de admiração e alguns de suspeita dos da sua espécie. Um descendente de Gyan muito mais velho que ela e, portanto, mais poderoso e ela conseguira iludi-lo. As quatro Princesas-guerreiras ficaram surpreendidas ao ver Garnet. A mais velha era a única que ainda conservava o seu iludido. O seu nome era Saranin e o do seu iludido já tinha sido esquecido há muito tempo atrás. Agora, ele era Yjui, o covarde. Saranin levantou-se e perguntou a Garnet:
- Como te chamas? Quem serves?
- Garnet e sirvo Olhos de Prata.
Ela avaliou o xamã. Abnara fez um esforço por não se contorcer no seu lugar.
- Vieram-me dizer que és um Gyan.
Abnara apercebeu-se dos olhares incrédulos e comentários envenenados e invejosos, sussurrados até pelas três princesas sem iludido. Garnet ignorou-os e respondeu, calmo:
- Sou um Gyan.
O iludido Yjui levantou o olhar, sem se mover um milímetro sequer do seu lugar. Saranin olhou de lado para ele quando este sussurrou algo. Ela pareceu considerar as palavras de Yjui. Abnara ficou preocupada. Yjui era famoso pela sua capacidade de discernir as ligações entre ninfa e iludido. O destino de Garnet e Abnara estava dependente do que Yjui veria neles e do que Saranin entendesse das suas palavras.
- Abnara, olhos de prata, ilusionista de Guardiões.
Abnara surpreendeu-se ao ouvir o seu título. Saranin estava-lhe a dar hipótese de se pronunciar. O que Abnara dissesse neste momento determinaria a escolha de Saranin.
- Qual o veredicto de minha princesa Saranin, olhos de cobre, e de Yjui, o covarde?
- Essa é que eu nunca tinha ouvido!
A espécie ninfa começou a rir em coro. Saranin, no entanto, estava surpreendida. Yjui sorriu. Saranin levantou a mão e o silêncio voltou a instalar-se.
- Yjui disse-me algo que eu não esperava ouvir sobre a vossa ligação. Porém eu desejo saber mais. Garnet, o protetor, viverá para servir Abnara, olhos de prata, ilusionista de Guardiões.
Abnara, surpresa e aliviada, fez uma vénia. Tinha certeza que Yjui tinha visto o que os tinha ligado. Porém não esperava que Saranin realmente deixasse passar esta infração. Abnara esperou que Saranin desse umas palavras aos outros três sobreviventes dos rituais. Uma hora mais tarde, encontrou-se com Alyss em frente ao carvalho que servia de sua casa.
- Garnet. Bons olhos te vejam.
- Que bonitos olhos são. - Sussurrou Garnet.
- Abnara, tu iludiste-o de verdade?
- Mãe... foi ele quem me iludiu.
Abnara e Garnet olharam um para o outro. Naqueles últimos meses, um amor nasceu entre eles. Alyss sorriu ao ver a filha feliz.
- Nem todos aceitariam a vossa relação, mesmo com Saranin do vosso lado. Veremos o que acontece agora.
Abnara assentiu com a cabeça. Deu uma mão a Garnet e pousou a outra sobre a barriga. Tinha que correr tudo bem. Pela sua filha, Abnara faria com que corresse tudo bem. Por Liliane.
Fim do Episódio