Greta encolheu-se ao lado do trono, escondendo-se atrás da comprida e brilhante cabeleira negra que adornava a sua cabeça. Aos seus pés, os olhos esbugalhados no rosto do que fora o seu marido nos últimos dez anos fitavam-na incessantemente. Como poderiam parar quando já não estavam vivos? Greta tremeu, desviando o olhar. Ouviu passos aproximarem-se mas recusou-se a abrir os olhos.
- Nunca te vi como minha mãe mas também sei que sofreste nas mãos dele.
A forma como o príncipe dissera aquela palavra enviou mais arrepios pela espinha de Greta. Abriu os olhos ao sentir uma manta por cima dos ombros. Cautelosamente, levantou o olhar para o príncipe. Ele não sorria. Não havia qualquer emoção. Um rosto de pedra, tal como o coração do seu pai teria sido. Dois tiranos, sem dúvida.
- Não te condenarei pelos crimes do tirano que foi teu esposo. Mas também não te permitirei a vida neste reino. Serás exilada. Poderás ir para onde quiseres. Mas longe daqui.
Greta abriu os olhos. O mesmo sonho, todas as noites. Aquelas memórias distintas. Quantos anos teriam passado? Vinte? Trinta? Greta sentiu fúria ao recordar o seu sonho. Aquele príncipe, agora rei, arrogante como o pai. Palavras bonitas ditas em frente dos seus soldados, dos seus cavaleiros e, no entanto, tinha-a obrigado a ficar naquelas montanhas geladas. Com o punho fechado, bateu no gelo que cobria as sua canelas magríssimas. Como ainda estava viva, seria algo que a impressionaria não fosse a maldição. Nunca conseguiria morrer, a menos que a quebrasse. Nunca conseguiria viver...
Quando um viajante a viu naquele estado, pouco mais de um ano atrás, o mesmo homem que a exilara ali, sabendo que era o mesmo que uma sentença de morte, enviara os seus homens e os seus cavaleiros para a ajudar. Não a deixaria partir mas também não a queria morta. Tirano. Tal e qual o pai.
O som de cascos de cavalo atraiu a sua atenção. Greta levantou-se devagar, afastando o cabelo grisalho do rosto. Curvada, foi até à entrada da gruta que agora era a sua casa. Um grupo de cavaleiros de armadura brilhante destacava-se contra a neve que caía e o cinzento do céu. Mais um grupo de heróis para me salvar. Greta levantou a mão, indicando tê-los visto, e os homens seguiram na sua subida até ao cume da montanha onde se dizia estar a origem da maldição. Uma pontada de dor subiu o braço da velha rainha exilada. Gelo tinha-se formado nos nós dos dedos, imobilizando-os. Com o outro punho cerrado bateu no gelo, estilhaçando-o facilmente. Já estava habituada àquele frio, àquela dor, àquele isolamento. Mas não importava. Greta suportaria aquilo tudo para conseguir a sua vingança. Agora era velha, encurvada e enrugada mas a sua mente nunca tinha estado tão desperta. Iria conseguir a sua felicidade. Custasse o que custasse. Iria ter de volta o que era seu por direito. Aquele trono, aquele reino. Tudo o que lhe tinha sido tirado. Pelo seu marido e o seu enteado. E iria dançar em cima das suas covas, a sua vingança completa.
Mas, primeiro, tinha que resolver aquela maldição. Agarrou na manta velha que tinha trazido consigo naquele fatídico dia. A escalada, tantas vezes feita no passado, era dura contudo Greta habituada avançou contra a neve e o frio seguindo os cavaleiros. Talvez fosse desta que iriam conseguir quebrar a Montanha de Gelo.
No final do concurso, irei passar este exercício de escrita (pois quem me conhece sabe que eu escrevo sempre coisas compridíssimas e cheias de detalhes) para a página de Projectos para poderem aceder e ler sempre que quiserem. Se quiserem ver mais desafios/exercícios como este, tentarei escrever mais regularmente e partilhá-los aqui no blogue.
Já sabem, deixem a vossa marca na página!
A Autora