Lindsay olhou para o homem à sua frente. Pressentia a sua malícia mas não podia puni-lo. Tinha prometido à mãe. Deixou-o arrastá-la no seu fato de fada pela floresta. Não era a primeira vez que ele fazia algo assim. A mãe de Lindsay procurava-o por ter raptado antes outras crianças. Perguntou-se se a mãe a perdoaria se… não. Tinha prometido. Não podia fazê-lo. O homem tinha um sorriso aliviado. Tinha conseguido o que queria sem ser apanhado. Ao ver o olhar acusatório da criança apressou-se a explicar.
- A culpa é da tua mãe. Tudo o que te acontecer, a culpa é dela!
Lindsay sabia o porquê. A mãe tinha-o impedido de raptar um menino uns dias antes, embora não o tivesse conseguido prender. Mas não importava. A mãe encontrá-la-ia. Não tinha dúvidas. O homem parou ao pé de um buraco escavado recentemente. Uma cova. E não era a única ali, reparou Lindsay ao ver os vários montes de terra remexida espelhados naquela zona. Ele empurrou-a para dentro do buraco. Lindsay olhou para ele.
- Eu não te queria de qualquer das maneiras. Por isso vou-te deixar aqui para a tua mãe aprender a não se meter onde não é chamada.
Ele agarrou na pá e bateu na cabeça de Lindsay, que perdeu a consciência. Começou a atirar terra para cima da rapariga inconsciente. Esse era o destino que a fedelha merecia. A fedelha e a meretriz da sua mãe. Ela iria aprender, desta vez, quando descobrisse o quão inútil realmente era. O destino perfeito para a guardiã de monstros.
Lindsay acordou abruptamente. Já há bastante tempo que não tinha aquele sonho. Porque tinha regressado? Passou a mão pela cara, sentindo as gotículas de suor. Olhou para o despertador. Suspirou ao ver que faltavam apenas três minutos até este tocar. Levantou-se e arrumou-se para o novo dia. Silver, um pequeno gato de pêlo negro e olhos amarelos, sentou-se no banco ao seu lado, observando-a. Lindsay olhou para o animal de lado. Interrogou-se mais uma vez o porquê do nome ser Silver. Se tivesse sido ela a dar-lhe o nome, ter-lhe-ia chamado algo como Blackie ou assim. Mas o gato não era seu. Afastando esses pensamentos da cabeça, continuou a roer a sua torrada. Não podia perder tempo mas também não tinha vontade nenhuma de fazer o seu trabalho. Sentia o seu corpo pesado como se estivesse ainda debaixo da terra naquele buraco…
Silver miou, despertando-a dos seus pensamentos. Ela olhou para o gato. Estalou a língua.
- Não podes esperar que eu acabe de comer? Também tenho fome.
Silver voltou a miar, ronronando. Lindsay suspirou, pousando a torrada no prato. Se não o alimentasse agora, o gato não a deixaria em paz. E, provavelmente, vingar-se-ia destruindo-lhe outra peça de mobília. Outra vez. Assim que acabou, agarrou na torrada e saiu de casa. Viu a caixa de correio, rezando para que o dono de Silver se tivesse decidido a regressar a casa. Mas não teve tanta sorte. Entrou no seu todo o terreno e arrancou. Verificou o telemóvel, garantindo que tinha a localização certa em mente. Pelo que o cliente tinha dito, tratava-se de uma cobra… gigante. Lindsay suspirou ao ler a mensagem cheia de erros. Este era o seu trabalho mas seria pedir muito que escrevessem corretamente?
Lindsay estacionou à beira da estrada. Aquele era o local mas não havia nada que indicasse a presença de algo anti natura. Teria sido enganada? Agarrou na caçadeira e entrou na floresta. Não gostava nada de locais com vegetação cerrada e pouca visibilidade. Recordavam-lhe o seu sonho… aquele dia fatídico.
Lindsay abanou a cabeça, afastando aquelas memórias. Não precisava delas. Não precisava da distração que aquelas forneciam. Se havia realmente uma… cobra gigante ali, tinha que estar preparada. Ouviu passos à sua direita. Alguém corria. Decidiu seguir o som. Quem quer que fosse era rápido. E tinha imensa resistência. Algo que Lindsay não tinha. Ela parou para recuperar o fôlego. Quando levantou a cabeça, sentiu o seu sangue gelar. Estava rodeada por nevoeiro, numa área de floresta queimada. Não se via nem um rebento de verde. O chão estava negro e coberto de cinzas como se tivesse sido acabado de queimar. Relâmpagos fizeram-se ouvir. Assim como um rugido. O nevoeiro pareceu limpar-se quando uma criatura comprida caiu no chão, contorcendo-se. Lindsay abanou a cabeça e massajou os olhos. Tinha que se concentrar. Inspirou fundo e olhou em volta, de novo. A terra negra, os restos mortais queimados da vegetação que ali existia há vinte anos atrás, as covas das crianças. Aquele lugar era seu muito conhecido. Nunca tinha imaginado que voltaria a pôr ali os pés. Uma lágrima correu pelo seu rosto abaixo antes que conseguisse pará-la. Baixou a arma, caindo de joelhos no chão. Ela sabia que aquela era A Floresta. No entanto, tinha aceitado o trabalho… porque tinha ela realmente aceite ir ali?
Lindsay abriu os olhos. O nevoeiro tinha-se limpo. Não havia floresta à sua volta apenas um descampado com vista sobre a cidade. A lua brilhava, alta e cheia. Quando é que se tinha tornado noite? Melhor ainda, como é que tinha ido ali parar? Olhou em volta. O seu veículo estava atrás de si. Parecia que tinha conduzido até ali. Porque não se lembrava de nada? Entre outras perguntas foram preenchendo a sua mente. Levantou-se com o olhar fixo na cidade. O cheiro a tempestade preencheu o ar embora não houvesse uma única nuvem no céu.
Lindsay abanou a cabeça e foi para casa. Verificou o telemóvel. Se tivesse acabado o seu trabalho… não tinha trabalho? Pestanejou os olhos com força. Ia jurar que tinha recebido uma mensagem com um trabalho na floresta. O que raio tinha ela feito à mensagem? E porque raio não tinha rede ali? O que se estava a passar?
Estacionou o carro no local habitual. Entrou em casa. Estava tudo na mesma.
- Silver?
O gato não estava à vista. De estranhar, uma vez que vinha sempre ter com ela quando chegava. Foi pôr-lhe comida no prato mas interrompeu-se ao ver o prato cheio. Ele não tinha comido o dia inteiro? Impossível! Tinha-se enganado redondamente. Não estava nada tudo igual. O seu trabalho era como se nunca tivesse existido e o gato tinha desaparecido.
Largando as coisas em cima do balcão da cozinha, abriu o alçapão e desceu para a cave. Tinha de consultar os livros antigos que os seus pais e avós tinham colecionado. Não era muito usual recorrer a eles, pois a maior parte das vezes a informação estava desatualizada mas não tinha outra escolha. Não desta vez.
E acaba aqui. Sei que alguns repararam que a história está escrita de acordo com o novo acordo ortográfico apesar de eu escrever numa mistura dos dois acordos (ainda estou a tentar adaptar-me e faz-me imensa confusão a falta de c e p em certas palavras, ainda - continuo a vê-las como erros apesar de não o serem).
Ainda assim se detetarem algum erro na história em si, avisem que eu irei corrigir logo logo.
Já sabem como é: deixem a vossa marca na página!
A Autora